13 de Maio e a Desobediência Civil
Muito recentemente temos lido nos jornais noticias dilacerantes sobre o genocídio nesse estado permanente de eliminação da população negra. Imagino que a vocês também, essas notícias me deixam fora do eixo.
Uma quarta-feira fui visitar a exposição na Pinacoteca de São Paulo chamada Enciclopédia Negra e ao ler os relatos registrados de muitos negros e negras anônimos na história, uma constante me chamou atenção, a desobediência civil como arma de defesa e ataque.
Chega a data de 13 de Maio e até onde aprendemos na escola, parece que tudo se deu muito pacificamente com a caridade de uma princesa generosa e religiosa, mas os inúmeros relatos a que hoje podemos mais facilmente ter acesso dizem o contrário. Quero dividir aqui com vocês alguns registros que li e mexeram comigo, mas dessa vez, de uma maneira positiva.
Narcisa Ribeiro século XVII (17) - Vivendo em Ouro Preto, Narcisa ganhou fama na cidade por andar "bem tratada com saias de camelão e chinelas, como se fosse senhora". Entre 1748 e 1749, passou por uma devassa pública por conta de suas roupas luxuosas, consideradas "atitudes escandalosas". Não sabemos se Narcisa foi punida, mas o certo é que ela incomodou a sociedade colonial da época.
Catarina Cassange século XIX (19) - Africana escravizada no Brasil, Catarina Cassange fugiu para viver a liberdade quando estava grávida. Entre 1838 e 1839, seu antigo proprietário colocou vários anúncios de busca no Diário do Rio de Janeiro. Conhecida vendedora, Catarina costumava circular pela Rua do Livramento e foi ali que contou com apoio de outros africanos durante a sua fuga planejada. Aleixo, africano liberto que tinha o ofício de barbeiro, ajudou a esconder Catarina em sua casa na Rua dos Ferradores. Depois, ela conseguiu apoio para alcançar o quilombo de Laranjeiras, onde deu à luz a seu filho José, em liberdade.
E por último, um relato um pouco mais incisivo.
Tia Ana século XIX (19) - Em 1835, Tia Ana liderou uma insurreição de escravizados na fazenda de Francisca Antônio de Carvalho, na serra de Ibiapaba, interior do Ceará. O estopim para o levante foram os castigos impostos a uma escravizada idosa. Na ausência do senhor, liderados por Tia Ana, os escravizados invadiram a residência, assassinaram todos que nela estavam e atearam fogo na casa grande. O grupo ainda libertou da cadeia um desafeto do patrão, Jerônimo Cabaceira, que o acossou em seu retorno à fazenda, levando-o ao suicídio.
Fica aqui a reflexão das diversas maneiras que podemos fazer ainda hoje a desobediência civil para demonstrar que não estamos de acordo com esse regime de extermínio da população negra, pobre e de periferia em curso. Óbvio que não iremos chegar ao extremo como chegou Tia Ana, mas podemos ser Narcisas e Catarinas, podemos presar pelo nosso bem estar e bem estar dos nossos acima do querer e mandar desse estado brasileiro que não nos respeita e nem representa.
Para quebrar a dureza das minhas palavras, fique com as belas imagens de diversos artistas que ilustraram os relatos presentes do livro Enciclopédia Negra, no qual originou essa incrível exposição.
Para que toda a minha visitação acesse os destaques "Off Line" na página do instagram @brafrika_viagens
Abaixo você encontra os dados para visitar a Pinacoteca de São Paulo.
Exposição
Enciclopédia negra
Período: De 01.05.21 a 08.11.21
Curadoria: equipe do projeto Enciclopédia negra e da Pinacoteca de São Paulo
Ingressos com horário marcado e vendas apenas pelo site neste link.
Edifício Pina Luz
Praça da Luz 2, São Paulo, SP
Livro:
Enciclopédia negra, de Flávio Gomes, Jaime Lauriano e Lilia M. Schwarcz
Páginas: 789/Preço: R$89,90
OBS: livro também será vendido na loja do museu.